Guillaume, Marc. Le Capital et son Double, ed.PUF, Paris, 1975

 

 

A sectorialização da ciência e a pulverização social

 

"Or le cloisonement actuel des sciences humaines n'est pas admissible scientifiquement. Même en réalisant une synthèse de différents approches séparées on ne reconstitue pas une image satisfaisante du fonctionnement

social. En réalité, ce cloisonnement assure seulement un fonctionnement gratifiant des différentes communautés intellectuelles associées à ces disciplines séparées. Il reproduit, dans le champ scientifique, léclatement de l'homme en diverses fonctions sociales(...)."p.11

 

 

"Le champ d'une explication globale c'est celui  d'une sémiologie de ces nouveaux signes produits par le mode de production capitaliste. D'une sémiologie de léconomie marchande et du pouvoir, c'est-à-dire finalement des codes qu'ils produisent. Certes l'analyse sémiologique du système des objets de consommation a été amorcée par les sociologues, mais son raccord reste à faire avec l'analyse de la structure économique. Et aussi son extension aux autres signes produits par les organisations, en particulier les équipements et les actes de l'Etat et de ses appareils satellites."p.14

 

O registo simbólico e a hierarquização; sociedade simbólica, sociedade aos bocados.

As regras e os constrangimentos aos indivíduos que vivem em sociedade, regras que formam um sistema, ordenando-se numa representação coerente do universo e da sociedade.

 

A semiologia do espaço doméstico; o caso dos índios p.17-22.

Uma Proxémica nas relações sociais com os aparelhos de Estado.- A noção de territorialidade :

De algum modo, o capitalismo acaba por ser uma substituição de uma simbólica do território e do enraizamento por uma axiomática dos fluxos mercantis - sem território, e um código de inscrição - sobre um território abstracto, pelos poderes do Estado. (p17)

 

A desestruturação simbólica - o campo simbólico aos bocados; a substituição da classe pelos seus símbolos - grupo de pertença e de referência - o consumo ostentatório.

 

O Desejo e o simbólico. Modos de controlo e canalização do desejo. O investimento na ordem funcional.

"Le remplacement des choses par leurs symboles apaise l'angoisse, subjugue le désir: "Le symbole se manifeste d'abord comme meurtre de la chose, et cette mort constitue dans le sujet l'éternisation de son désir" J. Lacan, Fonction et Champ de la parole et du langage.)

 

 

Há que observar atentamente os modos de reinvestimento das marcas e dos símbolos perdidos. Os marcadores simbólicos que mantinham a coesão das diversas colectividades ao representá-las, como marca de território, praticamente já desapareceram. A família atomizou-se e instalou-se uma anomia compulsiva ligeiramente diferente da descrita por Durkheim. A necessidade e os desejos de expressão e marca para habitar a sociedade já não podem ser abastecidos por um campo simbólico coerente que desapareceu. Há que buscá-los nas grandes superfícies de distribuição de objectos, hiper-mercados do consumo, único acto que resta funcional nos processos de emulação[1] dos comportamentos sociais. Nas duas últimas décadas a via do consumo e da marcação através deste acto instalou-se de tal modo que é o próprio Estado que já se preocupa em cuidar dessa distribuição e grandes-superfícies adentro da generalidade dos serviços e objectos sobre os quais detém a exclusividade administrativa.

 

Objectos fetiche, imagens fetiche

 

A gestão do desejo e a gestão da falta (manque) a oferta e a procura.

 

A facilidade de aquisição de sentido no espaço do imaginário; a territorialidade fácil da imagem que adquire sentido sem necessidade de relação, como o símbolo.

O carácter extra/extensional....... que assume o objecto que suscita desejo e produz identidade

O modo e as diversas formas como o consumo cultural e de património produzem essa identidade através do acto de consumo, de uso, e de ostentação pelo discurso.

"...tout comportement fondé sur l'imaginaire, repose sur une logique du leurre. Le sujet vise, au-delà de l'objet et son image et pour nier sa déception le sujet oriente son désir vers d'autres images. Ce désir sans cesse renouvelé et piégé est l'un des ressorts de la croissance de la demande."p.29 -

Crescimento da procura - passagem do trabalho cinegético ao mercado.

 

O modo como os homens se têm que dobrar à lógica unidimensional das organizações sociais.

 

A litania dos objectos

 

O corte/diferença entre consumos individuais, consumos colectivos e as outras práticas sociais

 

Os sistemas classificados ,como em Jackobson, entre o discurso de tipo metafórico -ordem do simbólico) e o de tipo metonímico (ordem do imaginário).

 

Necessidades manifestas e o discurso recalcado: a análise clássica do consumo

 

O modo como o discurso económico embrulha e nega"a presença da conotação na fala dos objectos" . Como o consumidor, afectado ou não pelo marketing mascara o sentido dos objectos servindo-se do alibi das funções utilitárias que estes preenchem.

 

Reificação é a redução de todas as relações interindividuais e da sua complexidade simbólica a uma simples relação de dinheiro.

 

Da ordem da necessidade até à ordem do desejo

 

Novas formas de alienação

 

A serialisação até da família.

Comunicar como verbo intransitivo. "La comunication n'est presque plus jamais source de communion."p.59

 

O imperialismo do código social.

De algum modo o código social provém de uma articulação entre o código da mercadoria e o código do poder emanado pelo Estado.

É assim que o objecto se torna também, de entre outras funções e usos, o suporte do código do valor de troca - a um primeiro mecanismo cumulativo, sobrepõe-se um outro de carácter mais simbólico e com base morfológica na informação (sobre o seu valor de troca)p.66

 

A reprodução do valor

"Au lieu d'être seulement transmis par quelques éléments matériels comme les systèmes symboliques, le code de la marchandise est créé par elle. Plus il y a de biens, plus le code qu'ils créent est impératif et exige la production de nouveaux biens. Processus cumulatif qui donne au système des objets la nature d'un cancer (...)"p.68

 

A representação - código e espectáculo

O ciclo do consumo espectacular:

As necessidades implicam novas produções que mudam as representações e criam novas necessidades.

 

Numa sociedade onde os homens se encontram isolados pelo mais diverso tipo de barreiras propícias a esse isolamento, serializados nas suas condições de trabalho, de transporte e habitação, e ao mesmo tempo inseridos no código e hierarquia económicos inscritos pela mercadoria, são as diversas faltas assim produzidas adentro dos seus clusters de raridade que alimentam todo o género de relações de antagonismo e mesmo conflito imanente. Relações que impelem ainda mai essa rerialisação, o individualismo geral e o desenvolvimento das várias procuras.

 

O código do poder - o modo como funciona enquanto representação social.

 

 

Valor de Shapley- indice do poder do votante numa assembleia calculado com base nas coligações, número de votantes que pode congregar para o seu voto.

 

 

 

A organização estratificada concretiza-se por exemplo na grelha indiciária que comanda as remunerações.

A hierarquia das funções e das profissões que induz todas aquelas do ensino e do saber.

 

A marca do poder sobre o território: "Le pouvoir qui n'inscrit pas sa marque sur les espaces qu'il contrôle, disparaît" (Y. Stourdzé) p. 83

 

 

Territorialização, funcionalização e produção da normalidade:

O modo como o código do poder parcelisa o individuo em diferentes funções; este separa-se em diferentes hierarquias autónomas, mas isomorfas. O individuo funcionalisado nas instâncias do poder encontra no consumo o meio de ligação entre os papéis sociais impostos e de lhes dar uma certa coerência.

Assim, a par da perspectiva, segundo a qual as intervenções do Estado e outros organismos públicos, corrigem os excessos e as insuficiências da economia de mercado, pode perceber-se a perspectiva inversa: a funcionalização, a parcelização da vida quotidiana e tudo o que nos é imposto pelas instâncias de poder, é corrigido pela relativa globalidade da economia de mercado. - compensação, inscrição abstrata e identidade no objecto.

 

"L'essentiel de la théorie économique est ainsi une théorie a-spatiale. Au contraire, le code du pouvoir est un code territorialisé; il inscrit sur un territoire (par des équipements), dans des textes, dans des classifications. Le principe de son fonctionement est de classer..."p.88

 

A normalização

 

 

 

O Espctáculo

Génese da representação

O espectáculo do Estado p.93

A arte - é em 1793 que surgem os primeiros museus; a obra reservada para uma elite, é mostrada ao público. A arte torna-se na sua maneira de estar, uma instância separada da sociedade e sempre abordada ou apegada ao poder. Mas depois da Revolução, o espectáculo da arte passa à apreciação da colectividade.

"C'est donc le statut de ce que Bataille appelle les dépenses improductives qui change tout d'un coup: "Le luxe, les deuils, les guerres, les cultes, les constructions de monuments somptuaires, les jeux, les spectacles(...) représentent autant d'activités qui,(...) ont leur fin en elles mêmes."p94

 

Processos de reificação

A comunicação social cria uma representação da sociedade sob a forma de uma colectividade de individuos isolados, mas cujas acções se tornam coerentes entre eles graças a um mundo universal e de um Estado árbitro. Por isto não há distinção a fazer entre a reificação induzida pelas produções culturais e aquela induzida pelos objectos, privados ou públicos. p.97

 

 

O espectáculo da mercadoria e o espectáculo do poder. 98

 

O espectáculo da mercadoria não é o produzido pela economia de mercado e os objectos que esta fabrica. É o conjunto das construções imaginárias que vestem o código da mercadoria seja qual for a sua origem. Do mesmo modo, o espectáculo do Poder não é produzido apenas pelo Poder; compreende todas as imagens que são úteis ao seu funcionamento.

p.98

 

O modo como o espectáculo, enquanto conjunto de imagens, bloco imagético (que se basta, não se relaciona com) se representa a mediação das relações sociais.

O papel do valor de uso enquanto duplo do valor de troca produzido na sociedade de capital espectacular. As vias de indexação e rentabilização de um valor pelo outro a partir do mesmo objecto.

 

O imaginário do poder e o imaginário social; o acesso dos media e a sua capacidade de domínio do monopólio do imaginário social. A sedução que este domínio exerce no poder.

 

 

Crítica dos equipamentos colectivos

Os equipamentos colectivos enquanto pivot do logro do discurso mitológico da igualdade e da doutrina social.

O espectáculo da representação do acesso.

 

 

Desenvolver

Os processos de reprodução social mais diversificados; a transmissão do património cultural através da escola (função diminuida) Bourdieu e Passeron. A concorrência dos media e os processos de elite no acesso aos media.

O modo como a elite, aristocracia cultural se identifica não tanto pela capacidade económica que daria acesso a objectos mais caros, mas mais pela posse da chave hermeneutica que abre a porta ao entendimento do discurso de elite. O papel da família no despoletar da vontade neste investimento.

 

Crítica da Escola p.105

"Ce qui est ici caché par la machine scolaire c'est "une autre forme de transmission directe, de famille à enfants, et ignorée des lois sur les successions, a savoir la transmission du capital culturel" Consequence de ce nouveau mode de selection sociale: une famille aisée perçoit l'école comme une contrainte alors qu'elle ser les intérêts objectifs et collectifs de sa classe; une famille pauvre vit l'école comme une instance de justice sociale alors qu'elle est un des facteurs de maintien des disparités"p.105

 

As vantagens da queda no imaginário por via da evasão.

 

O arbitrário do imaginário social; a telenovela e a relação com o império do real igualmente imaginário.

 

O Estado face ao capital

A diferença e junção entre economia mercantil e economia pública

A função de redistribuição proveniente da necessidade de tutela e imposição de um juízo de ética social

 

 

Controlo dos níveis de suspensão - almofada estatal

A produção de certos bens colectivos e a tutela das necessidades consideradas essenciais permite satisfazer reivindicações sociais, evitando a emergência mais aguda da questão das desigualdades sociais

 

Capital técnico

Capital trabalho

Capital necessidades/procura

 

A dissolução da família e a sua redução ao par conjugal, deu lugar à extensão de equipamentos colectivos que tomam conta das crianças, dos velhos e dos doentes.

O Estado pai de família.

 

A procura de classificações/hierarquização, mecanismo cumulativo de procura de identidade.

Na atomização e desestruturação do tecido sobe a procura de identidade social - a necessidade de regras e classificações, inscrição num determinado discurso.

 

A gestão dos bens e equipamentos colectivos  p.138

A criação de procura

Os equipamentos respondem primeiro à necessidade de resolução de problemas que à procura ou necessidades dos utentes; um bloqueamento de tráfico, por exemplo

 

O modo como cada aparelho territorialisa um espaço no imaginário e se produz autonomamente no registo do espectáculo.

O Desejo de Estado

O sistema de significações associado aos serviços fornecidos pelas organizações.

 

"Mais la classification hiérarchique qu'impose l'équipement collectifest le plus souvent plus abstraite et ses conséquences sur les rapports sociaux plus indirectes. Prenons l'example des musées. Ils classent et hiérarchisent le champ du patrimoine artistique.. Il en résulte, compte tenu des autres mécanismes de transmission du capital culturel, une partition spécifique du public des musées(...)P. 148

ver também Pierre Bourdieu, L'amour de l'art, ed. Minuit, Paris 1969, p.35

 

O frágil poder dos utentes sobre os equipamentos colectivos é proveniente da apropriação simbólica de Estado e serialização de utentes produzida pelas administrações .

Este mesmo mecanismo de serialização emerge nas audiências de rádio e televisão.

 

"Les équipements collectifs actuels mériteraient d'être appelés "collecteurs" - au triple sens du mot: collecteurs d'impôts, collecteurs de foules, collecteurs d'énergie, de désir.

 

A reprodução da procura

A experiência de uma falta que renasce permanentemente. O próprio objecto de consumo satisfaz apenas momentaneamente o desejo e cria ao mesmo tempo as condições que o tornam insuficiente. - a acumulação do desejo.

O investimento dos códigos do poder no consumo público.p.155

 

Há a observar a legitimidade da utilização do discurso social levada a efeito pelo poder de gestão dos equipamentos colectivos

 

 

 



[1]Emulação- processo de equiparação, produção de equivalências entre actos ou discursos