ÂNSIA
No dia em que não houver mais loucos neste mundo
A Terra há-de parar, cansada de tanto movimento
Arfando, limpará o suor da sua testa
E, como desse dilúvio nada restaria,
Numa inércia eterna que então reinaria,
Eu quero: a Terra que continue sempre
Movida pelos novos loucos que a empurram.
Tu aqui e eu lá
Neste vai-vem em que eu vou
Nem te pressinto
Será que te encontro?
Longe é que me lembras
Mas sem cuidados
É só pela distância
Ou será que também ardes?
A via da ser
Com troços de glória
Sonhos à solta,
Quiçá com revolta,
Aspiração à memória.
Amar, porvir, não ter.
Porto, 21-22 de Abril de 1988