Porto, 20 de Janeiro de 1991
Excelentíssimo Sr.
Nesta carta vou-lhe perguntar como sentiu os resultados das eleições de 16 de Janeiro. Não quero que responda a ninguém senão a si próprio. Nós todos saberemos a resposta com o tempo.
Se esses resultados constituiram para si uma derrota, é porque não conseguiu o seu objectivo, publicamente afirmado durante a segunda metade da campanha eleitoral, de alcançar uma segunda volta. Mas os resultados são tão concludentes quanto à inviabilidade, a priori, dessa hipótese! As sondagens, de que concerteza tomou conhecimento durante o período da campanha, só deixam pensar ter o senhor "jogado a feijões", feito "bluff", ou ter um optimismo gratuito. Não acredito em nada disso.
No caso de um empate, é porque aceita candidamente limitar-se a ser um peão numa estratégia partidarista. Honra-o muito o trabalho que fez pelo CDS, mas é triste que isso só traga mais consistência aos jogos partidrários pós-legislativas. Metaforicamente falando, é sabido como duas "cores complementares se avivam mutuamente quando justapostas, e se anulam num "acinzentado horroroso quando se misturam. - sua inteligência dir-lhe-á como isso é suicida, e o seu esforço nas presidenciais é assim canalizado em vão.
Mas pense se foi ruma vitória: antes de si, ninguém foi capaz de assumir um discurso nacionalista e colher centenas de milhares de votos expressos, fora aquilo que se terá escondido atrás da abstenção; a distribuição encontrada no passado domingo é, nesta perspectiva, uma pré-figuração do que pode (e deverá) ser o quadro político do País nos próximos tempos: um "consenso promíscuo e vazio de valores, cercado à esquerda e à direita por correntes políticas capazes de justificar (mesmo que uma delas seja o PC) a vitalidade de um regime democrático. O diário "Público" do dia 17 tinha um mapa que revelava a distribuição, por distritos, dos segundo-lugares: o dr. Basílio Horta apanhou a fatia do leão, sobre o (relativamente bem-sucedido) candidato do PC. Não se esqueça: o País conheceu em si um excelente Mensageiro que deu um exemplo como não se via há uns bons dez anos. Mais que tudo, ficou a conhecê-lo pelo nome próprio, naturalmente. Vai deitar fora esse capital de entrada? Vai só ligar ao que a classe política e os jornalistas lhe sussurram redundantemente (aqueles que não lhe viram costas...)? Ou vai, de vez, transformar a sua candidatura, como início simbólico duma nova fase para o CDS, num verdadeiro Serviço ao País?
A AD "fechou a loja em Fevereiro de 1986. Mas que Sá-Carneiro e Amaro da Costa repousem em paz: Portugal tem de novo condições para reedificar a Política, com as exigências que hoje atravessamos. Com Servidores do País. O tempo dirá. Com admiração, e profundo agradecimento pela inspiração que nos tem dado.
PAULO DE OLIVEIRA