Eurocracia


O estupendo artigo do general Silvino Silvério Marques, homem que só conheço pelas suas ideias, firmes e sábias, que O DIABO publica, veio, modéstia àparte, corresponder a muito do meu sentimento sobre o acordo de Maastricht, actualmente na posição de (mau) perdedor. Queria sublinhar três aspectos desse artigo:

Primeiro, o temor de uma hedionda manipulação do referendo pela "eurocracia". Não custa imaginar isso pelo escudo que a comunicação social mais lida forma à volta da sacrossanta questão da Unidade Europeia. É isso, legitimar a manipulação, que Miterrand veio dizer a Soares, para o convencer a apoiar o referendo?

Segundo, «a língua, a NATO, o Brasil e o ex-Ultramar» como capital inalienável de preservação da nossa identidade e soberania; acrescentar-lhes-ia os nossos emigrantes, especialmente aqueles que, trabalhando noutros países do Velho Continente, sabem apreciar melhor que ninguém os valores que distinguem o nosso País ­ o País que foram forçados a deixar, e onde sempre voltam e tentam fixar-se.

Terceiro, e muito mais haveria, a possibilidade muito real de uma hegemonia franco-germânica, prepotente, colonizadora (sob o manto diáfano de uma Bruxelas cujos habitantes não sabem que idioma têm) e falível como tudo o que é humano. Foi essa a mensagem dinamarquesa, onde se alimentam os mesmos receios pela Alemanha que nós secularmente alimentamos pela Espanha, os irlandeses pela Inglaterra, os gregos pela Turquia que vem aí a caminho, etc..

Cada vez que eu vejo uma criancinha a pedir para o Sto. António (ou outro pretexto qualquer) sinto vergonha do vício da pedincha que tão cedo se enraíza nos nossos hábitos. Nesse vício se podem encontrar muitos dos motivos que levam tantos Portugueses, sobretudo os ligados ao dinheiro, a ver na Comunidade Europeia um "el Dorado" ­ porque somos maioritariamente incapazes de nos valermos a nós próprios. Se isto é irremediavelmente verdadeiro, e com o previsível caminhar para um Mundo dividido entre os países ("entidades administrativas") a abarrotar de riqueza e marginalidade e os países da fome e miséria, enfim, neste quadro duplamente pessimista da evolução do egoísmo (vide frei António), então do mal o menos, encolhamos os ombros e vamos lá para o que Delors, Pires & Cia. pretendem.

Paulo de Oliveira