Não quero alongar-me. Vim há pouco do Colombo, e enquanto lá estive tinha que comparar com os tempos de ouro destas catedrais do consumo. Tempos que já lá vão. O regresso à relativa frugalidade de tempos ainda mais antigos torna-se cada vez mais evidente, mas com duas diferenças: todos endividados, e com medo de engrossarem o desemprego, essa arma de desvalorização do trabalho.
Se há sinal da crise, é o desaparecimento de lojas, nalguns casos o de ramos de comércio quase inteiros. Com elas desaparecendo hábitos, rituais, destinos. Substituí-los é como reconstruir uma vida após um divórcio ou uma morte, para muitos já não é possível fazerem-no. O luto vê-se nos rostos de toda a gente, luto do consumo, saudade duma vida de gastos que não passava duma ilusão. A mesma tristeza dos comerciantes nos natais para vir.
Só os mais novos, que acordaram para a vida adulta já com a noção do que nos espera a todos, não chegam a viver esse luto, vão a tempo de se ajustarem para um mundo que vai ser outro. Pior é para os que, ainda sendo novos (menos) chegaram a viver aquela ilusão. Gerações charneira sentem-se sempre como gerações perdidas. A culpa é de nós todos. E a revolta é de quase todos.
Paulo de Oliveira