Li algumas das coisas que se escreveram àcerca da nossa profissão e gostava de juntar algo:
1 - Do que recentemente fui vendo o que mais me custa é ainda o princípio seguido pela maioria dos docentes universitários de que estão a formar investigadores para as universidades ou então professores do ensino básico e secundário. Na realidade existe um mundo de actividades a preencher (e a usufruir) pelos biólogos em Portugal e é pena que todos os biólogos e sobretudo os seus formadores não tenham disso clara noção. Estou convencido que é talvez a principal razão que ainda nos faz "leves" na sociedade portuguesa. O que me é grato ver é que quem olha para fora rapidamente descobre esse mundo (e o que me é estranho é a insistência de quem está dentro em continuar fechado e "sofredor").
2 - O trabalho sócio-político na área da Biologia é fundamental. Se todos temos que, ou gostamos de o interpretar, é outro assunto. E é preferível para nós que alguém o faça. A analisarmos os percursos, o que temos que verificar é se quem os faz os faz com qualidade e em benefício (também) da classe, e se deixou as portas abertas para outros tomarem o seu lugar e assim dar continuidade ao trabalho. Penso que o Humberto cumpre todos os requisitos. Não estarei sempre de acordo com ele (Oh-Oh!) mas faz e fez mais pela Biologia e pelos Biólogos que a maioria das "Eminências".
3 - Precisamos de "Biólogos Portugueses". Com letra grande. Não valerá muito a pena recriminar-mo-nos pelo que somos, mas temos que crescer e isso leva o seu tempo. Sinto a falta de verdadeiros conhecedores, de mestres que nos ensinem e em quem possamos confiar (as duas coisas juntas, claro). E é esta menoridade que não encontro noutros grupos. Se queremos ombrear com outras profissões o melhor é "falar" menos e trabalhar e aprender muito e mais. Mas havemos de lá chegar. E dizer isto é diferente de dizer que a Biologia não tem maturidade - e parece-me chegarmos aqui ao cerne da questão -- não é a biologia, mas quem a interpreta que é ou não adulto.
4 - O associativismo está mal visto (?). Na realidade não compreendo o que os meus colegas entendem por associação. Por mim teria por certo que as relações nesse âmbito seriam bi-unívocas. O que constato é que a tendência de quem se associa é: O que é que vocês têm para mim?
Começo a sentir-me irritado com esta perspectiva e estava convencido que os biólogos não eram assim. Continuo portanto à espera de poder provar que uma participação alargada do "pessoal" levará inevitavelmente a uma maior capacidade de intervenção e a um maior reconhecimento.
5 - A Biologia é a ciencia do século XXI? Que importa!
O que é para mim determinante é que a Biologia determinará o comportamento da nossa espécie nos próximos decénios. Ela influenciará as nossas escolhas e a nossa sobrevivência de uma forma inelutável. O que me assusta é que como espécie não somos actualmente suficientemente literados para fazer as melhores escolhas. Então iremos tacteando e temendo que da próxima vez seja o caos.
Quando digo que a Biologia influenciará as nossas escolhas posso também assumi-lo literalmente. Até que ponto descobriremos que tudo o que fazemos tem um fundamento biológico (e logo sempre manipulável desse ponto de vista)?
Ou descobriremos finalmente que existe uma "meta-biologia" que nos livrará para sempre da nossa dependência "carnal"? Neste ponto por certo que o conhecimento do genoma humano e da sua interacção com o que o rodeia trará novidades interessantes e provavelmente determinantes para a nossa atitude face à nossa existência.
6 - Por fim o que me espanta é que a nossa sociedade já acordou para o "fenómeno Biologia" e bem antes que muitos de nós. Reparem nos jornais (parte da tal comunicacão social que não sabe o que faz e que faz apenas aquilo que atrai o "papalvo"). Qual deles é que não publica quase diariamente notícias na área das ciências biológicas? E o que é que fazemos para os enquadrar (apoiar, ou esclarecer, ou criticar)? Muito pouco. Porque não basta dois ou três biólogos a intervir. Precisamos de mais, muito mais. E como noutros casos, teremos que começar por baixo: pelo comentário, pela carta ao editor, pelo jornal e rádio local. Voltamos ao mesmo. O caminho tem que ser feito e não se faz (já não se faz) às avessas (entrando por cima).
Pedro Fevereiro
Assunto: RE: Media/Biologia
Foi muito positiva a intervenção do Rui Malhó, logo sugerindo duas vias de intervenção dos biólogos na Comunicação Social em correspondência à mensagem do Pedro Fevereiro: o envio regular de exemplares de O Biólogo, e o correio electrónico. Mas continuo a achar que sem coordenação de esfor,os pode ter-se pouca eficiência, ou perder-se a regularidade de intervenção por quebra de ímpeto. Não é forçoso que a APB faça essa coordenação, mas parecia-me lógico que fosse por aí que ela deveria ser feita. Agora, parece-me que isso não tem nada a ver com dirigismo, se entendermos dirigismo o condicionamento dos conteúdos das mensagens à Comunicação Social ou a sua frequência ou a sua oportunidade - isso seria indesejável.
Um trabalho de coordenação bem feito diminuiria enormemente os riscos a que alude o Pedro Fevereiro. Coordenar, em meu entender, seria por exemplo:
1.Dispor de uma lista de biólogos por competências científicas e sociais, no sentido de solicitar intervenções que se considerem oportunas, caso elas não surjam espontaneamente;
2.Dispor de uma lista de meios de Comunicação Social segundo o espaço que dedicam à ciência em geral e à Biologia em particular, terem ou não editores ou colaboradores próprios (e idóneos), o meio que utilizam (TV, rádio, imprensa escrita), periodicidade, difusão local ou nacional, etc., de modo a identificar/recomendar alvos preferenciais de intervenção em cada situação que se coloque;
3.Constituir um serviço aos biólogos em duas frentes complementares -- canalizar informações dos media (o que se tem tido neste campo é esporadico, biogafes àparte...) e divulgá-las entre os sócios da APB (a "revista de imprensa" referida pelo Rui), através desta lista, etc.; reciprocamente, ajudar os biólogos que tenham uma palavra a dizer a melhor fazerem passar as suas mensagens, recomendando-lhes onde e como devem enviar os seus contributos, e eventualmente dar achegas sobre o melhor formato para os mesmos. Adicionalmente, caso um biólogo solicite, propor revisores dos textos (seria uma sorte haver sempre quem se dispusesse a rever).
Há vários grupos de trabalho que funcionam em ligação com a APB, e se bem me lembro é uma solução orgânica que tem sido bastante feliz. Boa parte desses grupos, se não me engano, passaram por uma fase de recrutamento divulgada publicamente via O Biólogo. Pode ser que não seja tão difícil como isso constituir-se um grupo que se dedique a esta tarefa.
Paulo de Oliveira