O cérebro vai abrindo, desde que nasce, janelas de oportunidade para aprender. Ele está preparado para absorver determinada informação em determinada etapa, e assim sucessivamente. Isto passa-se ao longo de toda a vida. O cérebro vai adquirindo competências até à velhice. Mais lentamente, mas vai. O envelhecimento é uma mudança que torna as pessoas diferentes, em que se perdem capacidades mas em que podem desenvolver-se outras. O cérebro está sempre a aprender.
Em Portugal a aprendizagem é um 'happening'. Se a criança não
aprende, não faz mal; passa à mesma. Mas convém sublinhar que estas
falhas são irreversíveis.
(entrevistadora) É assim da opinião que deve existir um determinado
nível de exigência no ensino?
Acho indispensável haver exigência e existem capacidades e práticas
de ensino fundamentais. A memorização, por exemplo, é uma delas. O
treino da memória cria matrizes, como se fossem moldes, que tornamos
a utilizar em situações futuras. Aprender a decorar os rios vai
possibilitar-lhe decorar as artérias, se for para medicina. Que façam
teatro, por exemplo, possibilita-lhes que sejam capazes de manter um
discurso coerente. Quem está a decorar um discurso está a fixar a
lógica de entrosamento de um discurso que lhe será útiul futuramente.
Está a criar uma lógica de entrosamento de ieias. Se eu não criar
este sistema de suporte, depois vou ter dificuldades futuras noutras
apreensões.