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Assunto:      Re: [Users] Propinas
Remetente:    "Paulo de Oliveira" 
Data:         Sáb, 5 Novembro 2005 13:21
Destinatário: cachopas@uevora.pt
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Citando cachopas@uevora.pt
> Viva
> Como aluno e como funcionário da Universidade,
> gostaria de saber também a opinião dos professores e dos
> candidatos a
> reitor, a respeito das propinas.

A resposta que lhe vou dar não é de certeza a que a maior parte da academia perfilha, mas como pediu a minha opinião, aqui a tem.

Ensino público grátis, Superior incluído, é a única via honesta. Já se escreveu muito sobre isso, apenas reforço em abono desta perspectiva a implícita responsabilização das instituições e do governo na exigência de qualidade no ensino. A situação actual mostra como todos se demitem disso. A todos só têm interessado estatísticas, por exemplo o número de licenciados por ano e/ou por milhão de habitantes, ou o número de entradas no Ensino Superior sentido lato, incluindo-se aqui institutos politécnicos e universidades privadas. Um contínuo tapar o sol com a peneira, e infelizmente é uma tendência de muitos países.

Disse-se nos users, recentemente, que há universidades no estrangeiro que estão a considerar a hipótese de criarem um ano zero para, entre outros objectivos, colmatar as deficiências de formação de base que os alunos trazem do Ensino Secundário. Pois digo-lhe que não falta muito para que se generalize a noção de que os diplomados do Ensino Superior estão carregados dessas mesmas deficiências.

Segundo me contaram, e acredito em quem mo disse, a razão para a Escola Superior Agrária de Beja, em contraste com a Universidade de Évora, ter tantos alunos em áreas da agricultura e pecuária, é não exigir Matemática nas provas de ingresso.

Saramago, recentemente, disse que as universidades são um lugar de debate e espírito crítico, fundamentais para uma educação em cidadania tão necessária à prática do espírito democrático (cito o Courier Internacional edição portuguesa de 3 de Novembro). O que se vê? Uma tendência crescente para tratar o Ensino Superior como o cumprimento duma formalidade. Não me refiro só aos responsáveis governamentais: os universitários no seu todo são em geral cúmplices nesta banalização do ensino superior. Infelizmente, o ilustre escritor tem uma visão demasiado encantada do que são as universidades.

Se o Ensino Superior público fosse grátis, como pagar as estruturas, por exemplo o seu ordenado? Auto-financiamento (muito importante as universidades serem geradoras de riqueza) e apoio do Estado, este a exercer uma responsabilização permanente.

Como isto dá muito que fazer e no fundo (logo em Portugal!) o Ensino não é um assunto prioritário, os estudantes têm de "comprar" o canudo. Para por exemplo pagarem-se as subvenções dadas às universidades privadas, em troca da "absorção" de candidatos ao Ensino Superior. Quanto mais caro, menos responsabilidade.

Aqui tem a lógica das propinas. Embora um Reitor possa, com o acordo do Senado, tornar o Ensino Superior grátis para os alunos, não irá fazê-lo. Julgo até que a maior parte dos alunos não estão interessados que assim seja.

Mas a generalidade dos alunos está interessada em "negociar" um valor qualquer que lhes convenha. Saramago, põe-me os olhos nisto!

Paulo de Oliveira
Departamento de Biologia
http://www.acessoensinosuperior.pt/indest.asp

P.S. — Vale a pena acrescentar que em muitos mestrados é notório o preço exorbitante das respectivas propinas, que se faz acompanhar pelo reduzido interesse dos alunos inscritos naquilo que se tenta ensinar. É um "negócio fechado"... Ver também um texto já bastante antigo sobre esta treta.