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Cromossomas

O ciclo cromossómico durante a mitose e a meiose

Na sua qualidade de unidades estruturais de transmissão do material genético, os cromossomas têm uma dupla faceta, de estabilidade e dinamismo, ambos necessários à correcta expressão dos genes: estabilidade no conteúdo dessa informação e seu arranjo, com uma baixíssima taxa de mutação nos processos replicativos (apesar das inúmeras cópias que a partir do zigoto se produzem para o desenvolvimento de um organismo multicelular, a taxa de mutação por geração permanece sempre a níveis que não alteram significativamente a 1ª lei de Mendel); e dinamismo, representado por três processos integrantes das divisões celulares, designadamente a duplicação da informação genética, visível nas profases e metafases pelas duas cromátides unidas ao nível do centrómero de cada cromossoma, a condensação das cromátides durante as profases, pela qual os diferentes cromossomas se "desemaranham" do entranhado em que se encontravam no núcleo interfásico, e, especificamente na meiose, o crossover.

A interfase abrange todos os processos desde o final de uma mitose ao eventual início da mitose seguinte; o núcleo e os nucléolos encontram-se bem individualizados, enquanto os cromossomas estão descondensados ao ponto de ser muito complexa a sua distribuição dentro do núcleo, não podendo ser observados directamente senão em condições ou em casos muito especiais.

Há dois exemplos de observação de cromossomas interfásicos individualizados. O mais tradicional é o dos cromossomas politénicos, presentes nas glândulas salivares das larvas de dípteros (como as Drosophila spp.) os quais, como o nome indica, são constituídos por muitas cópias do mesmo cromossoma em perfeito alinhamento entre si; as células destas glândulas terminam o seu processo de diferenciação com uma série de duplicações de todos os cromossomas, sem divisão celular (um dos fenómenos a que se dá o nome de amplificação genética), de tal maneira que o núcleo resultante é exacerbadamente poliplóide, contendo centenas de cópias de cada cromossoma. Cada par de homólogos emparelha numa só estrutura em "feixe", e por causa do alinhamento entre todas as cópias homólogas a micro-estrutura desses cromossomas pode ser observada ao microscópio óptico quando isolados dos respectivos núcleos.

Mais recentemente, a técnica de microscopia confocal e a utilização de sondas moleculares específicas tem permitido marcar por fluorescência cada cromossoma, cuja imagem (e a do seu homólogo) se destaca sobre um fundo escuro; são imagens espectaculares que têm revelado padrões de distribuição dos cromossomas dentro do núcleo interfásico de variadas células, cuja interpretação ainda decorre mas que já confirmam haver no núcleo uma compartimentação muito complexa.

A célula, à saída da mitose, entra em interfase e pode nunca mais voltar a dividir-se, mas se voltar inicia o processo preparando-se para a replicação do DNA, que dura várias horas e produz no final, a partir de cada molécula desse DNA, duas moléculas idênticas entre si (as duas cromátides) e idênticas à molécula que lhes antecedeu (cf. "replicação"). Como mostra a figura 3, este período da interfase é denominado a fase S (síntese do DNA), e entre ela e o início da profase seguinte há um intervalo de duração mais ou menos característica em cada tipo de célula, a fase G2 (G de gap, sinónimo inglês de intervalo, lacuna).

ciclo celular

Figura 3 — Diagrama das diferentes fases do ciclo celular: M (mitose, subdividida nas sucessivas fases pelas correspondentes iniciais), G1 (gap1, pré-síntese do DNA), S (replicação do DNA), G2 (gap2, pré-mitose); a sequência G1——S——G2 constitui a interfase. O ponto "start" indica a transição G1 → S que marca a "decisão" da célula de se dividir. G0 não é uma fase, é um estado de não-divisão celular, reversível ou não para G1 (eventualmente G2).

A entrada na profase marca o início da condensação dos cromossomas, que vai atingir o seu máximo na metafase e anafase. Dado que a metafase é relativamente prolongada e os cromossomas são mais fáceis de individualizar entre si, as imagens mais comuns referem-se a esta fase da mitose; deste modo, os cariótipos — o tipo citológico do material nuclear — das espécies eucariotas definem-se pelo menos em função da observação de cromossomas metafásicos (cf. figura 5): no máximo da sua condensação e contendo duas cromátides.

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Cromosomas metafásicos

A região onde aparentemente se unem as cromátides de cada cromossoma metafásico é a constrição primária ou centrómero, e é também por essa região que as cromátides vão ser puxadas para cada um dos pólos da célula durante a anafase (por isso os pedaços de cromossoma sem centrómero, ou cromossomas acêntricos, estão condenados a perder-se na sequência das divisões celulares). É por referência ao centrómero que se definem os caracteres morfológicos principais de cada cromossoma: se a sua posição for terminal ou quase, o cromossoma diz-se acrocêntrico (ou telocêntrico) e tem apenas um braço por cromátide. Sendo medial, o cromossoma é metacêntrico e tem dois braços por cromátide, prolongando-se em sentidos opostos, distinguindo-se um braço mais curto (p) do mais longo (q).

Os telómeros são os segmentos terminais de cada braço, e desempenham um papel importantíssimo na estabilidade dos cromossomas, durante o ciclo celular nomeadamente.

Em cada cariótipo há pelo menos um par de cromossomas com outra constrição ("secundária") que contém a região organizadora do nucléolo (NOR), dado que é à sua volta que o nucléolo se reconstitui na telofase. Estruturas conspícuas em muitos cariótipos são os satélites, material por vezes de dimensão variável que se prolonga a partir do centrómero de cromossomas acrocêntricos, ou constitui uma região bem definida no extremo de um braço (contendo, assim, o respectivo telómero).

Quando se detecta uma célula em metafase, num esfregaço devidamente preparado e corado, a imagem que se apresenta é a de cromossomas espalhados que se fotografam, recortando-se as figuras individualizadas dos cromossomas para serem agrupadas duas a duas (por pares de homólogos, em princípio de morfologia idêntica), e em seguida serem ordenadas e numeradas por tamanho, desde os maiores aos mais pequenos.

Com bastante prática é possível distinguir, nas espécies que se estuda, os diferentes pares de cromossomas, mas existem casos onde é necessário um tratamento (nas plantas, geralmente, o bandeamento C) que resulta na coloração diferencial da cromatina em diferentes segmentos de cada braço, evidenciando padrões de bandeamento característicos de cada par cromossómico; assim se consegue a identificação de cada par sem ambiguidades. O bandeamento C também é utilizado para distinguir cromossomas homeólogos (v. adiante).condensação dos cromossomas e bandeamento

Nas plantas não se têm explorado pormenores de bandeamento cromossómico ao ponto a que tem sido feito na espécie humana e nalguns animais; pode ir-se ao ponto de analisar os cromossomas pré-metafásicos, que por estarem ainda em processo de condensação são mais compridos mas já suficientemente espessos para a observação microscópica; a estrutura de bandas observáveis na metafase decompõe-se em sub-bandas nestes cromossomas, podendo ser de grande auxílio na identificação de variações estruturais (figura 4).

Figura 4 — Comparação entre o cromossoma 3 humano em pré-metafase (esquerda) e em metafase; a maior distensão na pré-metafase permite distinguir sub-bandas dentro das bandas principais visíveis em metafase (neste caso, com bandeamento G). A linha horizontal indica a posição do centrómero nestas imagens.

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Cromossomas na meiose

Na profase I há dois aspectos citológicos de interesse, e que estão especialmente bem estudados no milho: os cromómeros e os pontos de quiasma. Os cromómeros são observáveis desde o leptóteno ao paquíteno, constituindo zonas mais condensadas dos cromossomas intercaladas por "espaçadores" menos condensados, dando-lhes um aspecto de "colares de pérolas". Estes cromossomas fornecem a informação estrutural mais detalhada em plantas, quase ao nível de resolução dos cromossomas politénicos dos dípteros.

Os pontos de quiasma observam-se particularmente bem a partir do diplóteno, permanecendo até à anafase I, altura em que se dá a sua "resolução" que liberta os cromossomas homólogos em início de segregação. Há evidência muito segura de haver uma correspondência directa entre o número de pontos de quiasma e o número de crossovers que permitem a recombinação entre cromossomas homólogos (cf. "grupos de ligação"), pelo que estas figuras citogenéticas são consideradas evidência directa dessa recombinação.

Na fase S dos ciclos celulares conhece-se um fenómeno análogo ao crossover, denominado troca entre cromátides-irmãs, que parece resultar da reparação, inerente ao processo de replicação do DNA, de segmentos danificados do cromossoma.

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