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Cloud Atlas
Reality
Lincoln
Decisão de risco
O mentor
Força anti-crime
Um caso real
Ferrugem e osso
A idade da loucura
Transe
A noite dos mortos vivos
Grandes esperanças
Mestres da ilusão
Lore
Post tenebras lux
A Gaiola Dourada
Um homem de família
Elysium
Paixões proibidas
Jobs

1Cloud Atlas

2Reality

3Lincoln

Impressionante peça histórica sobre política

Guerra da Secessão, Abraham Lincoln, fim da escravatura... tudo temas muito batidos, talvez. Mas a realidade é que há sempre outras maneiras de contar uma história, e neste caso a partir dum livro de Doris Kearns cujo título diz tudo: o génio político de Abraham Lincoln. Porque é na complicada trama que ele lança para fazer aprovar a abolição da escravaura que este filme se centra. E se juntar Spielberg com Daniel Day-Lewis (que postura tão bem trabalhada, nem parece ele, impressionante!) já é uma garantia de grande cinema, juntem-se os talentos de Tommy Lee Jones e de Sally Field e fica um desafio irresistível.

4Decisão de risco/Flight

Magnífico retrato da negação do alcoolismo

Este filme foi uma surpresa total. Começa com uma sequência espectacular (mesmo para Zemeckis), do voo à volta do qual toda a história vai desenrolar-se; e há toda uma história para acompanhar: homem que, numa manobra genial, consegue salvar quase toda a gente no seu avião, é um alcoólico. E tem de negá-lo, mais ainda quando é visto como um herói. Aí se vê o segundo sentido de Flight: não só voo, mas também fuga. E se o alcoolismo não tem nada a ver com o que aconteceu, tem a ver com a sua sensação de auto-suficiência, de vaidade profissional, de impunidade perante a vida. A tensão de manter uma falsa aparência vai-se acumulando implacavelmente, até que saem da sua boca as palavras "Deus me ajude". E isso revela como tudo mudou dentro dele. Este drama, servido por um actor de grande profundidade como é Denzel Washington, e por um cineasta que está muito para lá das magias de efeitos que o tornaram mais famoso (Robert Zemeckis) é algo a não perder.

5O mentor/The Master

Travo de frustração

Adoro estes actores e actriz (Hoffman, Phoenix, Adams), tenho alta consideração por P. T. Anderson, mas não é desta que dá para sentir alguma satisfação. Acompanhamos a odisseia dum ex-marinheiro da II Guerra Mundial (Phoenix), que não "bate" bem, e que encontra numa espécie de guru de meia tijela (Hoffman) alguma compreensão ou, pelo menos, conforto. Acabamos por ver que aquilo é tudo gente à deriva, e de impostura em impostura, com repetidos regressos à estaca zero, se vai percebendo um microcosmo de gente com grandes projectos e pequenas (ou nulas) realizações. Pessoalmente, não gostei. Tanto talento desperdiçado numa fita sem jeito nenhum, sinceramente!

6Força Anti-crime/Gangster Squad

Espectacular

Claramente uma remake de L. A. Confidential, é um filme de lutas de todos os tipos. E nesse aspecto, que filmão! Josh Brolin está muito bem escolhido, como o chefe desta brigada anti-gangsters, durão, determinado, nada subtil, tendo por contrapontos um elegante Ryan Gosling algo descrente (de início) e um fantástico Sean Penn como vilão, e ainda a beleza de Emma Stone, que se sabe prisioneira numa gaiola dourada. E, na retaguarda, Nick Nolte como o mentor desta brigada. Com uma perfeita lógica de história aos quadradinhos, sem nada de muito profundo ou original, contudo é uma magnífica produção e um espectáculo de grande nível para quem não se importe com tiroteios. O ano de 2013 está a começar bem.

7Um caso real/En Kongelige Affare

Bom retrato de época

Filme escandinavo com filmagens na República Checa, talvez porque só nesse país ainda se encontrem exteriores que preservam os ambientes urbanos do século XVIII, atravessa uma fase conturbada da monarquia dinamarquesa, vacilante entre um feroz conservadorismo "medieval" e os ventos do Iluminismo. Do ponto de vista histórico, o maior interesse está precisamente em conseguir-se perceber como a situação das sociedades europeias dava azo às críticas dos iluministas, no aspecto intelectual mas sobretudo no aspecto social, e como isso acabou por desembocar na Revolução Francesa: a opressão é uma tampa teimosa que só sai à força. Neste caso, foi temporariamente destapada na Dinamarca, para logo a seguir voltar a fechar-se num regresso às trevas; sob outras roupagens (de novos opressores), bem podemos pensar no que aconteceu entretanto e ainda pode estar para vir.
O golpe de estado, magnificamente arquitectado com o seu cortejo de mentiras, traições e cobardias, é de certeza um dos pontos altos da fita. Outro é o desempenho extraordinário de todos os actores, com destaque para o que retrata o rei Cristano VII (Mikkel Boe Følsgaard, na altura ainda aluno da escola de teatro!). Desta vez, a belíssima Alicia Vikanders tem ampla oportunidade de mostrar o seu talento dramático, e aos dois junta-se uma estupenda galeria de actores e actrizes suecos e dinamarqueses, com Mads Mikkelsen à cabeça. Finalmente, todo o ambiente de época, com grande equilíbrio de cenas de interior e de exterior, e reconstituições extremamente convincentes de todos os "palcos", até nos comportamentos. Mas não deixa de ser um pouco decepcionante perceber que os factos históricos estão um bocadinho "adaptados", enfim, talvez com a desculpa de serem o ponto de vista duma pessoa (a rainha), mas do nosso ponto de vista talvez não devesse ser assim.

8Ferrugem e osso/Du rouille et de l'os

Depois do caos

Sente-se este filme tão contemporâneo, é mais um estupendo produto de Audiard, talvez menos ambicioso no argumento mas muito arrojado nos temas, na produção, na filmagem. Grande mestre. Esta produção franco-belga brilha sobretudo pela originalidade, que se mantém sempre fácil de acompanhar, e pelas personagens, muito cuidadas, que sentimos em toda a sua humanidade. Marion Cotillard é magnífica no retrato que dá duma vida de repente bloqueada e sem rumo, se bem que a descoberta que vai fazer de outros mundos no seu novo modo de vida lhe venha a mostrar que antes também não estava melhor. Mathias Schoenaerts traz-nos um convincente matulão que parece andar alheio a tudo, sem futuro e com pouco passado, que parece só pensar em si mesmo e nos seus combates. Aquilo que se passa entre as duas personagens é um belo amor, mas nunca tentam admiti-lo. Ou por outra, os caminhos tortuosos da vida conduzem-nos a um novo destino, que só entrevemos no final.
Pode não ser um blockbuster, não é concerteza um filme para acompanhar pipocas, mas é refrescante, é novo, ajuda-nos a acreditar que o cinema é uma arte bem viva.

9A idade da loucura/21 and Over

Um teste aos limites

Os autores de A Ressaca explorando o já estafado ambiente universitário, com o mesmo talento para criar barracadas de pesadelo, e alguma piada ainda assim. Acho que este filme representa uma experiência em até que ponto conseguem ir no atrevimento visual e narrativo. Pode ser que dê continuações com mérito.

10Transe/Trance

É bom mas sabe a pouco

Entre o final relativamente banal e tudo o resto, a diferença é enorme. A realização é primorosa, incessante a oferecer imagens maravilhosas, desvairando por jogos de espelhos que não cansam, uma narrativa que sabe esconder o jogo muito bem.
Mas o tema "mental" parece ficar muito pela rama, parece mais um exercício estético, virado para o espectacular sem tentar fazer-nos pensar um pouco. Tem razão quem diz que a ideia merecia mais, pois o filme desvanece-se rapidamente das meninges, e é pena.
Quase só homens e poucos, onde Rosario Dawson é a rainha, com a sua fantástica presença.

11A noite dos mortos vivos/Evil Dead

Uma série bem vivinha, e recomenda-se

A série de Sam Raimi (2 filmes, de 1981 e 1987) é, do que apareceu no cinema de terror, das mais consistentes na qualidade. Desta vez mete a invocação dum espírito mau que vai dar cabo daquela gente toda. Se a história tem pouco de original, é na própria arte de filmar do realizador Fede Alvarez (uma estreia nas longas metragens), e no estilo peculiar de fazer terror da série, que reside maior interesse. E não é pouco, para quem aprecie, e sobretudo para quem não conhece a série (devem ser poucos, nessa intersecção), para quem vai ser uma revelação. Para os que já a conhecem, é a garantia de mais uma boa dose de medo sem restrições.

12Grandes esperanças/Great Expectations

Um clássico, classicamente cheio de classe

O distinto romance de Charles Dickens, com o seu cortejo de personagens vitorianas tão típico, está maravilhosamente filmado. Desde a felicidade simples e resignada do padrasto de Pip, até à tragédia vivida pela sempre-noiva, é um fresco de destinos apaixonante, à elevadíssima medida do original de Dickens, que encenação, actores e câmaras brindam de maneira eloquente. Quando os britânicos fazem cinema assim, então todo o brilho dos seus actores deixa de ser brit para ser universal. E é um desses casos.

13Mestres da ilusão/Now You See Me

Um pouco superficial mas muito divertido

Os espectáculos de ilusionismo, e dos mentalistas, só se justificam pelo fascínio de ser-se enganado. Este filme é de certa forma a homenagem mais certeira a tudo o que envolve esses espectáculos. Não esquecendo os infelizes que se dedicam a revelar os truques (Morgan Freeman) e os outros infelizes que como investidores acreditam controlar tudo (Michael Caine). E a maneira como tudo é feito realça uma história muito bem concebida e muito bem contada, e com um sentido de humor muito divertido. E se os efeitos especiais e as perseguições de carro se tornam banais, não deixam de servir o propósito de ajudarem a contar a história, que é a melhor jóia deste filme que até ao fim sabe levar-nos tão bem.
Mark Ruffallo é o verdadeiro protagonista e está perfeitamente à altura. Ele é o rosto da ambiguidade, e nela está o segredo da Ilusão.

14Lore

É duro, mas também um filme notável

Estava apreensivo: nesta produção com pouco de alemão e onde a realizadora/argumentista Cate Shortland é australiana, que língua iriam falar as personagens alemãs? Afinal, Alemão, e o da época. Esta marca de autenticidade mantém-se em todos os aspectos daquilo que se pode ver até ao fim: as lições da sobrevivência, os bloqueios preconceituosos, os tempos de confusão em que nem as relações familiares se aguentavam, tudo é exposto através duma história magnificamente delineada e desfiada, sem suavizá-la, sem ornamentá-la, sem pensar num público assim ou assado (excepto que tem de ser um público adulto!). E que maneira de filmar mais ousada!
A jovem actriz Saskia Rosendahl está excelente. E se o ritmo é um pouco lento neste road movie calcante, e a linguagem cinematográfica estranha para quem só se identifica com o cinema à Hollywood, para quem sabe (e deseja) que o cinema seja muito mais do que isso, uma forma de arte e cultura, então este filme pode ser uma maravilha a não perder.

15Post tenebras lux

Tem coisas boas, mas é um bocado frustrante

Entre a espantosa criatividade da realização, que por si só faz desta fita uma experiência invulgar, e o pretensiosismo de todo o projecto, cuja história é na melhor das hipóteses desconexa, a sensação que fica é de perplexidade. Aonde o autor quer chegar com "isto", ni idea. Nem que ele tente explicar.
A cena do suicídio está incrivelmente bem feita.

16A Gaiola Dourada

Cinema escorreito e um retrato que faltava fazer-se

Sucesso de bilheteira merecido, a provar que o mal do cinema português não está nos gostos do público. Algum aspecto de caricatura pode prestar-se a generalizações impróprias, mas salvo isso há que valorizar a naturalidade, tanto artística como técnica (inclusive perceber-se o que os actores dizem), e o estupendo casal protagonista. Fita ligeira, em geral o humor não resvala e até tem momentos sublimes (a cena da Imaculada com a fantástica comediante que é Chantal Lauby, ou o jantar no castelo Victoire).
À sua maneira, faz uma bonita homenagem àqueles emigrantes portugueses que, por via da maneira de ser colectiva, dos escrúpulos e das circunstâncias, se tornam trabalhadores de grande valor, sem que esse valor lhes aproveite nalguma coisa. Retrata-nos a emigração sem os "pressupostos" dos intelectuais nem os desvios da propaganda política. Na sua gaiola dourada. Fazia falta uma fita assim, de facto.

17Um homem de família/Iceman

Um biopic improvável

Impressionante Michael Shannon na caracterização da personagem da vida real que encarava a morte com a maior naturalidade, o que lhe dava uma aparência e frieza que lhe valeu a parangona jornalística de Iceman. Contudo, não é um serial killer, pois (e aqui falando mais da personagem da fita do que do fulano que a inspirou) é alguém que se vê a si próprio como um justiceiro. O título em Português realça até o seu outro lado: marido e pai sinceramente dedicado, o que causa inveja no submundo onde ele se move. O cameo pouco "penitente" de James Franco é o ponto de viragem para o protagonista, quando o seu peculiar código de honra vai começar a entrar em choque com as paranóias da malta do crime organizado. Às quais ele próprio não é imune, de resto. É sem dúvida nenhuma um filme diferente, uma boa oportunidade de ver Shannon brilhar, bem secundado por Ryder, Liotta e Evans.

18Elysium

Tolerável por causa do intolerável

Corruptela de Eliseu, o local reservado aos heróis e virtuosos na mitologia grega, é um satélite onde cabem todos os privilegiados do mundo (aparentemente). Não há grande história nisto, aliás quem tenha aversão às tretas futuristas faz bem em manter-se ao largo; mas acho meritório o retrato do despudorado egoísmo dos "RICHE", levado a um ponto de abjecção que não se afasta, excepto na distância e meios de transporte, daquele que sempre se viu e continua a ver. E continua a tolerar-se. Bons actores (incluindo Jodie Foster numa caricatura da actual directora do FMI) em representações banais, meios técnicos e filmagens muito competentes.

19Paixões proibidas/Adore

Para apreciar profundamente

Como eu me senti feliz por ter ido ver este filme! Porque nele tudo é tão bem feito, tão íntimo connosco, e principalmente porque é o melhor louvor da verdade. A situação que se cria normalmente ficaria escondida, mas a lealdade absoluta, ou melhor dito o exemplo de amizade dado pelas duas protagonistas, dá coragem para encará-la e vivê-la abertamente, nesse círculo de amizade. É nesse ponto que se torna uma verdadeira intrusão naquelas vidas felizes a mentira das convenções mundanas, a começar pela do casamento. É o mais próximo que vi de Brokeback Mountain nesta vivência duma situação contra todas as convenções, mas até achei este melhor, mais tocante, com uma história mais desenvolvida, e com a genuína beleza daquilo tudo a ajudar-nos a vencer as reservas morais que se possa trazer.
Para além do par de protagonistas (extraordinária cumplicidade entre Naomi Watts e Robin Wright), há a destacar o papel de Ian, cujo actor (Xavier Samuel) personifica muito bem toda a carga emocional da personagem.
A realização de Anne Fontaine (née Sibertin-Blanc) é impecável, aquela baía paradisíaca faz sonhar, o ritmo da história está muito bem gerido. Em especial gostei como o argumento evita o mais que pode as falas, sendo o pouco que se diz perfeitamente suficiente, ficando o resto ao cuidado das imagens. Fantástico!

20Jobs

Uma crónica de misfits

Biopic muito agradável de seguir, retratando o percurso de Steve Jobs, cofundador da Apple, desde os seus tempos à deriva na universidade até à produção do iMac — aquele que serviu, como ele diz a certa altura, para tornar a Apple fixe outra vez. Só um apontamento sobre o iPod, e nada sobre a PIXAR, mas não são verdadeiras lacunas: nesta fita temos tudo o que é necessário para compreender o visionário, o incompreendido, o cruel, o grandioso Steve Jobs; cabe-nos a nós lermos através disso tudo o que nesta fita fica por contar. Vemos como a miséria espiritual de quase todos à sua volta, mais preocupados consigo mesmos do que com a grande aventura para o futuro que era a empresa, quase a destruiu; vemos como o seu espírito desafiador, exigente, também diabólico e manipulador, construiu equipas capazes de cumprir o impossível; e vemos como a grande paixão de Jobs era o design, cujas exigências colocaram os desafios tecnológicos que, com a ajuda dessa gente de talento, teve de vencer.
As ênfases nesta personagem ao estilo de Alexandre Magno de Silicon Valley podiam ter sido outras, e o melhor deste filme, cujo argumento está muito sabiamente trabalhado, está em terem sido muito bem escolhidas para revelarem o todo. Um inadaptado que teve a sorte e o talento de adaptar o mundo ao sonho, com isso fazendo muita gente feliz. Apesar das distorções históricas, e sobretudo da maneira lamentável como Steve Wozniak é retratado.
Kutcher, muito bem acompanhado por Mulroney, consegue ter a presença carismática de Jobs neste filme. Se "é" Jobs não sei, até preferia que não lhe imitasse a maneira estranha de andar, pois essa presença e o espírito dentro dela já estão bem servidos sem o recurso a detalhes que mais parecem caricaturas.

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